O ator, ex-aluno da PUC-Rio, trabalha em todos os meios, escreve poesias, anda de ônibus, não se considera uma celebridade e é viciado em YouTube.
Ele é conhecido pelo teatro. Pelo cinema. Pela televisão. Pela internet. Pela literatura. O multimídia Gregório Duvivier trabalha em todos esses meios. Filho da cantora Olivia Byington e do músico Edgar Duvivier, o ator de 23 anos começou a atuar aos 9, no curso de teatro Tablado. Menino tímido e anti-social, o teatro foi a saída encontrada pelos pais para desinibir o filho.
Em pouco tempo, a aula de teatro, uma vez por semana, tornou-se a felicidade máxima para Gregório. Ele esperava com ansiedade as horas no Tablado, onde conseguia se soltar, já que o colégio francês onde estudava, Liceu Molière, era bastante rígido.
Saindo da severidade francesa, ele foi para tranquilidade universitária. Formou-se em Letras na PUC-Rio, em 2008. Um ano antes de entrar na faculdade, aos 17 anos, formou o grupo que faria a peça Z.É., Zenas Emprovisadas, com seis anos em cartaz e em turnês pelo país.
O sucesso da peça deve-se à improvisação. Fernando Caruso, Marcelo Adnet, Rafael Queiroga e Gregório convidam um ator e um diretor a cada espetáculo e fazem do palco um ringue de piadas improvisadas. Por isso, todo espetáculo torna-se único, diferente a cada apresentação. A peça, vencedora do prêmio Shell 2005, já foi vista por aproximadamente 100 mil pessoas.
Aos 19 anos, Gregório filmou O Diário de Tati, baseado em livro de Heloísa Périssé que ainda não foi lançado – devido a constantes adiamentos. Gravou participações em Reis e ratos, de Mauro Lima; Podecrer!, de Arthur Pontes e À Deriva, de Heitor Dhalia. Está terminando de gravar Carioca, de Julio Secchin, e em breve começará a filmar Anões em chamas, com Fabio Porchat, companheiro de stand-up comedy.
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Mas foi em Apenas o fim que Gregório se destacou no cenário cinematográfico. Diferente da super produção de À Deriva, o filme universitário de Matheus Souza (aluno de cinema da PUC-Rio) contou com uma verba de R$ 8 mil reais. Sucesso de crítica, Apenas o fim amealhou um público considerado alto para o projeto inicial (33 mil espectadores). O longa estrelado por Gregório e Érika Mader (também aluna da PUC, de História) conta a história de um casal que passa as últimas horas juntos depois que Adriana (Érika) conta ao namorado Antonio (Gregório) que vai fugir e começar a vida em outro lugar.
Gregório não se considera uma celebridade. A fama instantânea e arrasadora, segundo ele, é causada por trabalhos na TV. Como seu trabalho em televisão é discreto, sua fama corre mais entre amigos e “amigos de amigos”. O ator, que não tem carro, anda muito de ônibus, não é reconhecido na rua. E gosta disso. Ele vê amigos como Marcelo Adnet e Nathália Dill serem constantemente assediados e diz não sofrer com esse tipo de coisa.
Gregório adora ser reconhecido pelo trabalho – “como todo mundo” – mas não gosta, por exemplo, de andar pelo Leblon e ser fotografado, o que aconteceu há pouco tempo. “A invasão de privacidade é uma consequência ruim da fama”. Por esta razão, o ator usa o Twitter, e a internet em geral, com cautela. Considera tais ferramentas perigosas, “por invadirem a privacidade”. Não tem Orkut e usa o Facebook para se relacionar com os amigos mais próximos.
Gregório, no entanto, assume: é viciado
O ator, que já interpretou alguns personagens considerados neuróticos, se vê “apenas” como um obsessivo. Obsessivo no sentido de se concentrar em apenas uma coisa por vez, não fazer tudo ao mesmo tempo – o que pode parecer um paradoxo, pois Gregório trabalha em meios diferentes.
Seu humor provém da timidez. O nervosismo, afirma ele, é peça importante quando entra em cena. “O palco não é um lugar confortável, mas gosto muito de estar nele”. Com isso, o ator domina todas as linguagens: teatro, cinema, TV e internet.
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Gregório acredita que deveria ser mais seletivo. Certa vez, filmando dois filmes ao mesmo tempo, a cabeça deu tilt e os dois textos se confundiram no momento do “ação!”.
O ator já aventurou-se pela literatura. Bem aceito pela crítica, seu livro de poesias, A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora (7 Letras, 2008), foi elogiado por mestres como Millôr Fernandes e Ferreira Gullar. O lado lúdico, de brincar com as palavras é o que mais atrai Gregório na poesia. Ele começou a escrever aos 10 anos, mas foi na faculdade de Letras na PUC que escreveu as poesias publicadas.
Está em andamento um projeto que reunirá poesias de Gregório e da amiga Alice Sant’anna, aluna de jornalismo da PUC. O livro Cartografia afetiva do Rio de Janeiro é uma coletânea de poemas sobre os bairros cariocas.
Gregório bem que tentou fazer duas faculdades. Ao mesmo tempo em que cursava Letras na PUC, fazia Cinema na UFF. Mas acabou escolhendo a primeira opção e hoje, quando volta à universidade, sente-se em casa. Ele anda muito pela Gávea, onde mora. O chope do Baixo Gávea é um dos seus programas preferidos.
Por falar em preferências, o ator não pensa duas vezes quanto o assunto é cinema: “Woody Allen e Domingos de Oliveira”. Na literatura, Millôr Fernandes. Na atuação, Pedro Cardoso e Fernando Eiras.
Gregório vê em si três características marcantes: não ser muito coerente (“Faço o que tenho vontade”); ser sempre insatisfeito (“A insatisfação me move à satisfação”); e obsessivo (“Quando coloco uma coisa na cabeça, ela não sai!”).
Ele nunca teve dúvida do que seria “quando crescer”, e sempre contou com a ajuda dos pais. O pai, músico, compunha trilha sonora de teatro. A mãe, cantora, fazia o menino circular no meio artístico. Um dia, em casa, olhou para o pai e disse: “Vou fazer economia”. O pai, com uma cara de decepção, respondeu: “Você sabe que não vai chegar a lugar nenhum”. Ele sabia. O pai sabia. O lugar de Gregório já estava reservado nos palcos.
(leia a matéria no Portal da PUC)
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