19.5.09

101 dias no cenário de “Mil e uma noites”

Íntima e humana são duas visões que não se apropriam a uma guerra. Porém a jornalista norueguesa Asne Seierstad cria uma perspectiva única a partir de depoimentos de iraquianos durante a guerra do Iraque. Sua proximidade com personagens reais de uma guerra permitiu que ela escrevesse uma crônica reveladora sobre o cotidiano de um dos maiores conflitos do século XXI. Em “101 dias em Bagdá” (editora Record; 386 páginas; 2006) o leitor entra em contato com famílias que foram afetadas pela guerra.

Asne é autora do sucesso “O Livreiro de Cabul”. Nasceu em Oslo, em 1970. Atua como correspondente de guerra desde 1994, cobriu alguns confrontos importantes, o que lhe rendeu prêmios, como por exemplo, o Grande Prêmio Norueguês de Jornalismo, em 2003. Cobriu também a invasão do Afeganistão e a Guerra do Iraque em 2003, de onde saiu “101 dias em Bagdá”.

O livro leva o leitor para uma vida sob a iminência de ataques - primeiro do governo ditatorial iraquiano, depois dos bombardeios norte-americanos. A autora esteve em Bagdá entre os meses de janeiro e abril de 2003, antes e depois do conflito na ditadura de Saddam Hussein. Antes, a população evitou entrevistas com medo da repressão do governo. Depois, com os bombardeios, veio o medo.

Asne não se aprofunda nos temas políticos em sua obra, os depoimentos do livro demonstram o choque do conflito no dia-a-dia dos iraquianos, a discussão política ela deixa para os jornais, o livro é apenas uma crônica de sua experiência. Experiência essa que teve importante influência de três personagens: Aliya, a intérprete e amiga; Zahra, uma mulher que teve três filhos; Uday al-Tay, um ineficiente homem que era responsável por jornalistas internacionais. Esses personagens e outros tantos que Asne encontrou contaram histórias que nunca foram divulgadas a qualquer outro repórter.

É interessante analisar um desses personagens. Aliya foi selecionada pelo governo de Hussein para acompanhar a jornalista em Bagdá (poucos dias antes da invasão americana). Asne sempre questionava o comportamento de Aliya perante as instruções determinadas pelo antigo regime, porém a compreendeu após saber da forma como eram penalizados os que desobedeciam às ordens de Saddam.

No entanto, Aliya, como todos os outros iraquianos, havia sofrido uma lavagem cerebral feita pelo governo, que fazia com que eles não conseguissem analisar o certo e o errado. O resultado dessa lavagem foi a educação que a população teve de não questionar nada e quando - raramente - questionava, sabia que não era permitido falar.

Asne descreve com precisão e habilidade de romancista os cenários e situações que viveu. Como, por exemplo, a sua chegada em Bagdá. Ela escreve da seguinte forma: “A primeira coisa que vi foi a luz. Penetrou-me pelas pálpebras, abriu caminho pelo sono com carícias e deslizou até o sonho. Não era como a luz da manhã que eu costumava ver, não era branca e fresca, mas sim dourada. Com os olhos entreabertos em frente a uma janela com grandes cortinas de tule, entrevejo as poltronas estampadas, uma mesa bamba, um espelho e um armário. Há um esboço mal pintado na parede de um bazar no qual sombras de mulheres com grandes xales pretos deslizam pelas ruelas lúgubres. Estou em Bagdá!”.

Silêncio, medo, pânico, apreensão foram sentimentos vivenciados diversas vezes pela autora. Destruição foi o cenário mais comum. A falta de serviços essenciais como, por exemplo, água, alimento, energia elétrica e comunicação foram obstáculos ultrapassados por Asne. A jornalista teve também que se proteger dos bombardeios americanos que descreve no livro. Criou habilidades próprias para apurar e obter informações para seus registros jornalísticos e suas matérias.

Com dedicação e determinação de correspondente internacional, driblou a segurança de Saddam Hussein para conseguir desempenhar seu trabalho. E o leitor tem a sorte de conhecer essa história por completo no conforto de sua casa, apenas instigando-se com as aventuras de Asne Seierstad e seus inesquecíveis dias em Bagdá.

(resenha para a aula de Introdução ao Jornalismo)

5.5.09

Jornalismo por dívidas abaixo...

James Leynse/Corbis/Latin Stock
Sede do jornal no centro de Nova York


Muito interessante a matéria da Veja da semana passada (capa: "Puxe para se livrar deles"), assinada por André Petry, de NY, sobre a atual situação do jornalão americano New York Times: Inferno na torre do Times.

Completamente endividado, sem saber que rumo tomar, vendo a Internet como rival, assistindo a decadência dos jornais nos EUA, recebendo empréstimo do mexicano Carlos Slim, o NYT está sufocado.

E o pior é ver que a população não responde como deveria. Uma pesquisa mostra que 42% sentiria "pouco" ou "nada" se o jornal fechasse. E esse parece o destino mais provável da Bíblia do jornalismo mundial.

Milão, New York Times, São Paulo: Lalo de Almeida


Estava no site do New York Times e encontrei uma matéria sobre os canteiros de Burle Marx, aqui no Rio. As fotos são de Lalo de Almeida. Fui atrás dele na internet.
Lalo estudou fotografia em Milão, Itália, já trabalhou n'O Estado de São Paulo, Veja e está há dez anos trabalhando na Folha de São Paulo (onde mais?!).

Suas fotos são muito bonitas, as de fotojornalismo especialmente. Mais um site que vale a visita.

4.5.09

Francês na favela


Uma das atividades artísticas do ano da França no Brasil é o trabalho do fotógrafo francês JR, que está colocando fotos na favela da Providência, no Rio.
Eles colou painíes com foto feitas por ele de mulheres que perderam seus filhos em guerras urbanas com a polícia carioca. JR colocou também suas fotos em escadarias do centro e nos Arcos da Lapa.
As fotos dele já são lindas e as fotos das fotos são mais lindas ainda. Vale a pena entrar no site do fotógrafo e ver o portfólio.