Todo dia ele faz tudo sempre igual. E levanta às 4h da manhã em Bangu, se arruma em meia hora e às 6h50 chega à PUC-Rio. José Carlos de Oliveira, o ascensorista Zé, que trabalha no elevador do prédio Kennedy, fica na sua toca até 13h. Durante as aulas, Zé gosta da fila que fica na porta do elevador. Segundo ele, a adrenalina aumenta, o suor pinga e ele adora a função de subir e descer com todo mundo o mais rápido possível.
Contudo, nas férias a situação muda. Suor é coisa rara, adrenalina muito mais e manejar o elevador torna-se uma função quase solitária. Zé é amigo dos alunos e professores e conversa com todos.
- Nas férias sinto falta das pessoas, de conversar e o tempo passa mais devagar.
A mesma opinião é divida por Julia Danon, 19 anos, que trabalha no atendimento da biblioteca do Frings. Durante as férias a biblioteca fica em silêncio, mais do que ela gostaria. Nas semanas de prova, a anterior às férias, a biblioteca fica lotada, o barulho incomoda e as bibliotecárias precisam pedir silêncio. Isso aumenta o sentimento de solidão durante as férias, pois antes da paz absoluta o movimento é mais acelerado do que o natural. Julia não gosta do abismo entre a movimentação das provas e a calmaria das férias, mas prefere o período de aulas.
Outro lugar acostumado com a movimentação e que fica quase vazio durante as férias é o bandejão. A caixa Rosemari Osório, 38 anos, diz que gosta do movimento, inclusive “para garantir o salário”. Mesmo com a carga horária menor nas férias, o trabalho continua tedioso, principalmente por Rosemari ter uma relação de amizade com os alunos e funcionários.
- Semana passada um professor veio me contar que a filha tinha passado em um concurso de trabalho. Fiquei muito feliz de ele ter vindo compartilhar isso comigo, me senti uma amiga da família.
Rosemari afirma que a essa troca é muito positiva no seu trabalho e é isso que ela mais sente falta nas férias. Ainda segundo a caixa, lidar com o público é delicado, às vezes estressante, mas o saldo é positivo. E a hora passa rápido.
A professora do departamento de psicologia da PUC-Rio, Maria Inês Bittencourt confirma que é natural o conflito entre o tempo de trabalho e o ócio das férias, que dá a sensação de lazer no lugar errado.
- Se fosse lazer eles optariam por ficar em casa, mas como é trabalho acontece uma relação paradoxal entre gostar de não fazer nada e não gostar do ócio.
Uma coisa é certa, todos estão torcendo pela volta às aulas, principalmente Zé, Julia e Rosemari.
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