16.7.09

Harry Potter cresceu, junto com o público e com a bilheteria

Na semana de estréia do sexto filme da série Harry Potter, o Instituto Moreira Salles apresenta mostra sobre o cineasta francês Jean Rouch

De sapato branco, calça caqui, blusa pólo azul, Gabriel encontra o amigo Felipe. Envergonhado, cumprimenta-o um pouco sem jeito. De repente chegam Gabi, João Pedro e José Maurício. A social acontece no foyer do cinema Kinoplex do Shopping Leblon e os amigos não chegam a um metro. São crianças de quatro anos, esperando para entrar na sessão de 16h do novo filme da franquia Harry Potter. Apesar de reclamações como “só tem bebê nisso aqui” feito por uma senhora, esse é o público principal das primeiras sessões do dia. Quanto mais tarde, mais velho é o público. No lugar dos “bebês” entram os adolescentes.

O primeiro filme foi lançado em 2001, essas crianças ainda não tinham nascido, e Daniel Radcliffe tinha apenas 11 anos. Hoje o ator que interpreta o bruxo (e não mais bruxinho) em “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” tem 20 anos - com uma fortuna avaliada em £15 milhões - e seu personagem no penúltimo filme da saga tem 16.

E, aos 16 anos, Harry dá seu segundo. beijo. O clima de romance acontece com Gina, interpretada pela atriz britânica Bonnie Wright, de 18 anos. Tudo não passa de um simples beijo, mas para a estudante de 15 anos Laila Hawrylyshyn, já era hora.

- Finalmente eles se beijam!

Outra cena que mostra claramente o crescimento do bruxo é quando Harry é lembrado de fazer a barba. A cena marcou o estudante Rafael Conodit, 18 anos:

- Assisti a todos os filmes, de certa maneira cresci com Harry e como eu cresço é natural que o personagem cresça também. - diz Rafael, com a barba feita.

Após uma sessão, pai e filha saem da sala de exibição comentando sobre o filme. O pai é sincero: “eu não entendi nada”. A filha, achando um absurdo a fala do pai, tenta explicar o filme. Por mais que alguns não tenham entendido, o gerente do cinema Cícero Carlos explica:

- Harry Potter é diferente de qualquer outro filme. Não há um público específico, na verdade são seguidores, de idosos à crianças.

Pouco antes de começar outra sessão, a luz da bomboniere acaba, para o desespero de um grupo de meninas prestes a assistir o filme. “Como assim, como vou assistir meu filme sem pipoca?” – reclama uma delas. O problema é solucionado em alguns minutos e as meninas seguem satisfeitas para a sala com seus baldes de pipoca.

Segundo a atendente da bomboniere Geicyane, que trabalha há 2 anos e meio vendendo pipocas, as férias e o final de semana aumentam o número de pipocas vendidas. Harry Potter não é exclusividade.

A estréia de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” foi adiada por imposição dos produtores americanos. Inicialmente previsto para estrear mundialmente em novembro de 2008, o filme foi adiado para cobrir buracos no calendário de estréias decorrentes da greve dos roteiristas no último ano. Adiar a estréia pode ter sido uma boa estratégia, pois em 12 horas em cartaz, o filme arrebatou U$22,2 milhões, batendo um recorde histórico, segundo a revista “Variety”.

Quem gostou mesmo do filme foi o Vaticano. "L'Osservatore Romano”, o jornal do Vaticano, disse que esse “é o melhor filme da série” e afirma que faz "uma divisão clara entre aqueles que trabalham pelo bem e os que fazem o mal". Porém Bento 16 não é lá muito fã das bruxarias fictícias de J.K. Rowling. Em 2003, o Papa escreveu uma carta às mulheres alemãs dizendo que os livros de Harry Potter contêm “seduções sutis” que podem corromper jovens cristãos. Contudo, a atual boa crítica do cardeal surge depois de, no início do ano, um padre conservador austríaco classificar a série como “satanismo”.

Abençoado pelo Papa, sucesso de público e de crítica, o sexto filme da série tem tudo para estourar as bilheterias ao redor do mundo (a expectativa é que a renda ultrapasse dos U$800 milhões). Antonio Andreasi, 14 anos, confirma:

- Esse é “o” filme do Harry Potter!

Enquanto o blockbuster Harry Potter movimenta milhões e encabeça a lista dos mais assistidos com seus fãs eufóricos, o Instituto Moreira Salles apresenta de 18 de julho a 16 de agosto a retrospectiva completa da obra do cineasta francês Jean Rouch (1917-2004). Rouch é conhecido por ser um dos ícones do documentário moderno e é considerado um “antropólogo-cineasta”.

Silvio Tendler, professor do departamento de Comunicação Social da PUC-Rio e ex-aluno de Rouch, complementa que o cineasta é fundamental na história do cinema e confirma que ele é importante, principalmente pelo número de jovens que incentivou e formou.

Quando o assunto é Harry Potter, comenta:

- Os jovens devem ser contemporâneos deles mesmos. Filmes pipoca geralmente fazem mais sucesso, na década de 60 Rouch não era sensação. Não vejo antagonismo, é possível gostar de Harry Potter e assistir Jean Rouch.

Miguel Pereira, também professor do departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, discorda de Tendler. Pereira, que só leu o primeiro livro da série, não se sente atraído por Harry Potter, considera literatura de segunda categoria e filme de péssima qualidade.

- Tem uma magiquinha boba que atrai os jovens. Filmes não são efeitos especiais, seria melhor que esses jovens estivessem lendo Monteiro Lobato ao invés de se fantasiar para assistir Harry Potter.

Um dia de estréia de Harry Potter e um mês da mostra Jean Rouch. Os filmes da retrospectiva serão exibidos em 16mm, formado original de quando foram lançados, e também em cópias digitais. Alguns destaques são “Eu, um negro” (Moi, un noir, 1958), “Jaguar” (1954-67) e Petit à petit (1972). Também serão exibidos 14 filmes sobre o diretor. O Instituto Moreira Salles fica na rua Marquês de São Vicente, 476. Os ingressos são R$6 (R$3 meia) e há o passaporte de R$30 que dá direito a 12 entradas.

Para programação completa e mais informações, acesse: www.ims. com.br

(leia a matéria no Portal da PUC)