Por Bianca Baptista, Bruna Smith, Clarissa Pains, Lucas Landau * Governo culpa o clima pela falha de transmissão que deixou 60 milhões de brasileiros sem luz. Para professores da PUC-Rio, é necessária a diversificação do sistema elétrico para evitar o efeito cascata em caso de pane. Lucas Landau O apagão que atingiu 18 estados e 60 milhões de brasileiros, na noite desta terça-feira, 10, acende o sinal de alerta sobre a necessidade de verificar até que ponto o sistema elétrico está vulnerável, se o transtorno pode se repetir no país escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Segundo o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, o blecaute resultou de falhas em três linhas que recebem energia da hidrelétrica Itaipu, responsável pelo fornecimento de 20% da energia. Embora as causas dessas falhas sejam ainda incertas, o incidente expõe, segundo o professor de Engenharia Elétrica da PUC-Rio Eduardo Pacheco, uma certeza preocupante: são necessárias mais linhas de transmissão para que, no caso de falhas em algumas delas, o sistema possa suprir o fornecimento de energia. O doutor em Sistemas Elétricos de Potência afirma que, assim, reduz-se o risco do efeito dominó que deixou a maioria dos estados brasileiros sem luz. – Não podemos ficar tão vulneráveis assim. Seja por fatores climáticos ou outros motivos, a saída de operação de uma, duas ou três linhas, por exemplo, não deve ocasionar um apagão em cascata – adverte. Já na opinião do professor da PUC-Rio Delberis Araújo Lima, pós-doutor em Engenharia Elétrica, a redução do risco de blecautes generalizados exige um investimento de longo prazo, voltado à amplificação da matriz energética e à construção de hidrelétricas: – Este investimento não eliminará o risco de novos apagões, mas é necessário para reduzir a dependência de Itaipu e, assim, aperfeioçoar o sistema elétrico, tornando-o menos vulnerável – argumenta o especialista. – Geradores de emergência ajudam, porém de forma regional, não para o um país com as dimensões do Brasil. Araújo Lima esclarece que o apagão tem uma natureza distinta do ocorrido em 2001, decorrente de falta de investimento em geração: havia mais consumidores do que a capacidade de gerar energia. O professor é pragmático ao avaliar o diagnóstico de falha em linhas de transmissão de Itaipu: – Não é um problema causado por falta de investimento. O sistema está sujeito a falhas técnicas do gênero. Não há como garantir que não se repita. O Ministério de Minas e Energia culpa, por ora, as condições climáticas. Raios, chuvas e ventos fortes teriam danificado a transmissão de energia de três linhas, do Paraná para São Paulo. O triplo distúrbio acionou um mecanismo de defesa do sistema elétrico: ao interromper a distribuição de energia para evitar danos mais graves, deflagrou-se o efeito cascata que deixou no escuro cidades de São Paulo, Rio, Espírito Santo, Minas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Acre, Rondônia, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Goiás.
Lanternas estratégicas
Na PUC-Rio, os alunos em aula tiveram que evacuar os prédios. Com a ajuda de 20 guardas, munidos de lanternas, os estudantes eram instruídos a descer com calma pelas escadas. Não houve pânico. Todas as luzes de emergência da universidade, com capacidade de uma hora de funcionamento, foram acesas. Dois ascensoristas ficaram presos nos elevadores, um no prédio Frings e outro no Kennedy. A equipe de segurança abriu as portas e liberou os funcionários, uma hora depois do incidente. Apesar de ter à disposição geradores de grande porte, a prefeitura do campus não pôde usá-los na noite do blecaute, pois, para ligá-los, seria necessário desligar todo o quadro de luz da universidade, processo que, segundo o prefeito da universidade, Eduardo Lacourt, levaria mais de duas horas. – Os geradores têm capacidade de manter a PUC acesa por 48 horas. Serão acionados caso haja necessidade – afirma o prefeito.
A estudante Suzana Monteiro, aluna de Psicologia da PUC-Rio, participava de uma festa quando a luz acabou. Para ela, o incidente representou um duplo transtorno: no programa propriamente dito e na volta para casa. – Não foi a falta de luz que acabou com o aniversário, mas o calor. Saí por volta de uma hora da manhã e fiquei preocupada, pois as ruas estavam escuras e os sinais, apagados. Os carros estavam correndo muito. O pior de tudo foi subir de escada até o 11º andar. Ninguém merece – lembra. A volta para casa foi um dos principais desafios impostos pela escuridão. Funcionária da loja Yogocream da PUC-Rio, Lívia Bastos conta que, para ir da universidade à Muzema, no Itanhangá, onde mora, superou uma série de desafios: – Foi um caos. Estava saindo daqui [da PUC] quando faltou luz. Tive a sorte de pegar uma van, porque faltava ônibus. Quando saltei, morri de medo. Estava um breu. Escorreguei e me sujei toda, no chão molhado – lembra Lívia. A colega Jacqueline Correa, também moradora do Itanhangá, já estava em casa quando o fornecimento de energia foi interrompido. Mas, segundo ela, o “perrengue” foi grande: – Meus filhos começaram a chorar por causa de falta de luz e do calor. E, o pior de tudo, onde moro estamos sem água. Flávio Virgílio, aluno de mestrado de Petróleo e Energia da PUC-Rio, observa que o sentimento de impotência diante do breu foi acentuado pela temperatura elevada, e outras impertinências: – Por causa das janelas abertas, ouvia tudo que o chato do meu vizinho falava. A única coisa boa foi quando ele ligou o rádio e pude me informar sobre o apagão.
Resgates na Gávea
Durante as três horas de apagão, o Corpo de Bombeiros da Gávea atendeu a dez chamadas. Oito relacionadas a elevadores parados e duas relacionadas a princípios de incêndio: um na esquina das ruas Jardim Botânico com Pacheco Leão e outro na Rua Rainha Elizabeth. Duas pessoas foram intoxicadas com a fumaça e levadas para o Hospital Miguel Couto. De acordo com o tenente Paulo Barbosa, o princípio de incêndio está relacionado ao retorno da energia elétrica: – Após um blecaute, quando a energia volta, pode gerar uma sobrecarga e provocar incêndios. Por isso, é recomendável manter os aparelhos eletrônicos desligados e as luzes apagadas. O tenente De Marco, que estava de plantão, observa que outro problema comum decorrente da falta de luz remete às pessoas presas nos elevadores. Segundo ele, “é necessário que haja um critério para atender as chamadas, estabelecer prioridades, pois, normalmente, há uma viatura de salvamento, uma de água e uma ambulância”. – Os acidentes envolvendo bebês, idosos e feridos são prioritários. Ontem, tivemos de remanejar nossa viatura para socorrer uma senhora com um recém-nascido – conta De Marco. Diferentemente de outras áreas da capital fluminense, a Gávea passou incólume à ação de ladrões. Segundo o inspetor da Seção de Suporte Operacional (SESEP), Alessandro Barcelos, não houve registro de ocorrências na 15º DP (Gávea), durante o blecaute.
Horas de aflição no Rio
Os transtornos sofridos por estudantes e funcionários da PUC-Rio e moradores da Gávea refletem as três horas de desordem e medo vividas no Rio e em boa parte do Brasil. Sem a orientação dos sinais, motoristas cariocas enfrentavam o risco de batida a cada esquina. Embora o fornecimento de energia e o consequente funcionamento dos sinais tenham se restabelecido a partir de, aproxidamente, meia-noite e meia, na manhã desta quarta-feira alguns sinais de trânsito ainda estavam Toda a frota de ônibus permitida pela prefeitura está na rua. Segundo a Rio-Ônibus, 8.500 veículos "dão suporte" à população. Muitos, com medo de usar o metrô (que está funcionando com intervalos de até seis minutos), estão recorrendo aos coletivos. A preocupação aumentou o volume de carros pela cidade, levando a engarrafamentos.
Os trens voltaram a operar às 5h50 e funcionam com regularidade. As barcas e os aeroportos Tom Jobim e Santos Dumont também operam normalmente.
Entre a falta de água e os aparelhos danificados
Por conta do blecaute, as estações Guandu – que abastece de água o Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense – e Imunana-Laranjal – que abastece Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Ilha de Paquetá – pararam de funcionar entre 22h de terça-feira e 4h desta quarta. Ao todo, 62 municípios foram atingidos. A Secretaria de Educação afirma que, por causa da falta de água, 1.729 crianças estão sem aula na rede municipal.
Os consumidores que tiveram produtos domésticos afetados pela queda da luz podem recorrer ao Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor, o Procon-RJ. O prazo para pedir reembolso é de 90 dias. Segundo o órgão, deve-se solicitar o conserto de geladeiras e ar-condicionados, por exemplo, à concessionária de energia elétrica. Caso a concessionária não se manifeste, o consumidor deverá procurar o Procon pelo telefone 151, das 9h às 17h.
Autoridades culpam o clima
Eram 22h13 quando grande parte do Brasil ficou no escuro. Segundo representantes do Ministério de Minas e Energia, o blecaute que atingiu 18 estados brasileiros na noite de 11 de novembro de 2009 foi causado por pane no sistema elétrico interligado brasileiro, especificamente em três linhas de transmissão da usina Itaipu binacional, a maior do mundo, que fornece 14 mil MW de potência. No estado do Rio, 16 milhões ficaram sem luz. Por efeito dominó, até mesmo o sistema paraguaio teve o fornecimento de energia interrompido. Ainda de acordo com os técnicos do governo, a pane resultou de adversidades meteorológicas na região de Itaberá, no sul do estado de São Paulo. As intempéries provocaram falha de abastecimento de três linhas provenientes de Itaipu.
O apagão brasileiro ganhou espaço na imprensa internacional. O jornal americano The New York Times destacou o fato de o Rio de Janeiro ser a sede das Olimpíadas de *as cores no texto são para dividir o que cada um escreveu (leia a matéria no Portal da PUC) |
18.11.09
Apagão expõe a necessidade de mais linhas de energia
Gregório Duvivier é obsessivo, insatisfeito, incoerente. E feliz
O ator, ex-aluno da PUC-Rio, trabalha em todos os meios, escreve poesias, anda de ônibus, não se considera uma celebridade e é viciado em YouTube.
Ele é conhecido pelo teatro. Pelo cinema. Pela televisão. Pela internet. Pela literatura. O multimídia Gregório Duvivier trabalha em todos esses meios. Filho da cantora Olivia Byington e do músico Edgar Duvivier, o ator de 23 anos começou a atuar aos 9, no curso de teatro Tablado. Menino tímido e anti-social, o teatro foi a saída encontrada pelos pais para desinibir o filho.
Em pouco tempo, a aula de teatro, uma vez por semana, tornou-se a felicidade máxima para Gregório. Ele esperava com ansiedade as horas no Tablado, onde conseguia se soltar, já que o colégio francês onde estudava, Liceu Molière, era bastante rígido.
Saindo da severidade francesa, ele foi para tranquilidade universitária. Formou-se em Letras na PUC-Rio, em 2008. Um ano antes de entrar na faculdade, aos 17 anos, formou o grupo que faria a peça Z.É., Zenas Emprovisadas, com seis anos em cartaz e em turnês pelo país.
O sucesso da peça deve-se à improvisação. Fernando Caruso, Marcelo Adnet, Rafael Queiroga e Gregório convidam um ator e um diretor a cada espetáculo e fazem do palco um ringue de piadas improvisadas. Por isso, todo espetáculo torna-se único, diferente a cada apresentação. A peça, vencedora do prêmio Shell 2005, já foi vista por aproximadamente 100 mil pessoas.
Aos 19 anos, Gregório filmou O Diário de Tati, baseado em livro de Heloísa Périssé que ainda não foi lançado – devido a constantes adiamentos. Gravou participações em Reis e ratos, de Mauro Lima; Podecrer!, de Arthur Pontes e À Deriva, de Heitor Dhalia. Está terminando de gravar Carioca, de Julio Secchin, e em breve começará a filmar Anões em chamas, com Fabio Porchat, companheiro de stand-up comedy.
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Mas foi em Apenas o fim que Gregório se destacou no cenário cinematográfico. Diferente da super produção de À Deriva, o filme universitário de Matheus Souza (aluno de cinema da PUC-Rio) contou com uma verba de R$ 8 mil reais. Sucesso de crítica, Apenas o fim amealhou um público considerado alto para o projeto inicial (33 mil espectadores). O longa estrelado por Gregório e Érika Mader (também aluna da PUC, de História) conta a história de um casal que passa as últimas horas juntos depois que Adriana (Érika) conta ao namorado Antonio (Gregório) que vai fugir e começar a vida em outro lugar.
Gregório não se considera uma celebridade. A fama instantânea e arrasadora, segundo ele, é causada por trabalhos na TV. Como seu trabalho em televisão é discreto, sua fama corre mais entre amigos e “amigos de amigos”. O ator, que não tem carro, anda muito de ônibus, não é reconhecido na rua. E gosta disso. Ele vê amigos como Marcelo Adnet e Nathália Dill serem constantemente assediados e diz não sofrer com esse tipo de coisa.
Gregório adora ser reconhecido pelo trabalho – “como todo mundo” – mas não gosta, por exemplo, de andar pelo Leblon e ser fotografado, o que aconteceu há pouco tempo. “A invasão de privacidade é uma consequência ruim da fama”. Por esta razão, o ator usa o Twitter, e a internet em geral, com cautela. Considera tais ferramentas perigosas, “por invadirem a privacidade”. Não tem Orkut e usa o Facebook para se relacionar com os amigos mais próximos.
Gregório, no entanto, assume: é viciado
O ator, que já interpretou alguns personagens considerados neuróticos, se vê “apenas” como um obsessivo. Obsessivo no sentido de se concentrar em apenas uma coisa por vez, não fazer tudo ao mesmo tempo – o que pode parecer um paradoxo, pois Gregório trabalha em meios diferentes.
Seu humor provém da timidez. O nervosismo, afirma ele, é peça importante quando entra em cena. “O palco não é um lugar confortável, mas gosto muito de estar nele”. Com isso, o ator domina todas as linguagens: teatro, cinema, TV e internet.
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Gregório acredita que deveria ser mais seletivo. Certa vez, filmando dois filmes ao mesmo tempo, a cabeça deu tilt e os dois textos se confundiram no momento do “ação!”.
O ator já aventurou-se pela literatura. Bem aceito pela crítica, seu livro de poesias, A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora (7 Letras, 2008), foi elogiado por mestres como Millôr Fernandes e Ferreira Gullar. O lado lúdico, de brincar com as palavras é o que mais atrai Gregório na poesia. Ele começou a escrever aos 10 anos, mas foi na faculdade de Letras na PUC que escreveu as poesias publicadas.
Está em andamento um projeto que reunirá poesias de Gregório e da amiga Alice Sant’anna, aluna de jornalismo da PUC. O livro Cartografia afetiva do Rio de Janeiro é uma coletânea de poemas sobre os bairros cariocas.
Gregório bem que tentou fazer duas faculdades. Ao mesmo tempo em que cursava Letras na PUC, fazia Cinema na UFF. Mas acabou escolhendo a primeira opção e hoje, quando volta à universidade, sente-se em casa. Ele anda muito pela Gávea, onde mora. O chope do Baixo Gávea é um dos seus programas preferidos.
Por falar em preferências, o ator não pensa duas vezes quanto o assunto é cinema: “Woody Allen e Domingos de Oliveira”. Na literatura, Millôr Fernandes. Na atuação, Pedro Cardoso e Fernando Eiras.
Gregório vê em si três características marcantes: não ser muito coerente (“Faço o que tenho vontade”); ser sempre insatisfeito (“A insatisfação me move à satisfação”); e obsessivo (“Quando coloco uma coisa na cabeça, ela não sai!”).
Ele nunca teve dúvida do que seria “quando crescer”, e sempre contou com a ajuda dos pais. O pai, músico, compunha trilha sonora de teatro. A mãe, cantora, fazia o menino circular no meio artístico. Um dia, em casa, olhou para o pai e disse: “Vou fazer economia”. O pai, com uma cara de decepção, respondeu: “Você sabe que não vai chegar a lugar nenhum”. Ele sabia. O pai sabia. O lugar de Gregório já estava reservado nos palcos.
(leia a matéria no Portal da PUC)