28.3.09

O dia que matei Lenivaldo no Pires

Era uma sexta feira normal, como qualquer outra. Não era 13. Era 27. Duas semanas depois da 13. Fui para faculdade, cheguei na hora da aula. Subi no primeiro andar, olhei pela faixa transparente da porta. Lá estava ele. No escuro, com o projetor ligado. Todos atentos. Pensei, "essa é a melhor hora para matar Lenivaldo".

Desci as escadas cuidadosamente, cruzei o pilotis, passei pela vila, pelo CACOS, sai pela porta lateral da faculdade. Assim que saí dei de cara com os meus comparsas. Eles fizeram sinal do outro lado da rua, atravessei com cuidado e me encontrei com eles. Todos os assassinos juntos, reunidos.

Durante duas horas matamos o Lenivaldo. Também, com esse nome, pudera. Foram duas horas de massacre, de assassinato, de felicidade mórbida. E, confesso, algum peso na consciência. Bebemos o defunto. Inteiro, todo. De gole em gole, de copo em copo, de garrafa em garrafa. Não sobrara nada de Lenivaldo às 17h da tarde dessa sexta feira, após 10 garrafas de cerveja.

O culpado do crime? Pires. O poder de persuasão de Pires é incrível. E ele não faz muito. Pode-se dizer que ele tem fama e ela faz a cabeça dos assassinos. Ele é o culpado, sem dúvida. E Pires é visto apenas como bonzinho. Nunca ninguém irá desconfiar dele. Nunca.

Após o crime, alguns assassinos foram embora, outros voltaram para a faculdade. Quando cheguei no pilotis, conversei com um indivíduo que estava com Lenivaldo na hora do assassinato. Ele sabia o que eu tinha feito. Minhas mãos, praticamente com a arma do crime, me indiciavam. Durante a conversa soube que Lenivaldo desconfiou de nós, assassinos. Disse coisas importantes antes do assassinato, coisas que nunca mais saberemos, que foram enterradas com ele.

E o pior de tudo. Ao final da conversa recebi o recado: "Lenivaldo voltará, se prepara porque ele sempre volta, você querendo ou não". Hoje me arrependo. Hoje tenho noção do que fiz. Porque amanhã, quando tiver o purGatório1 (G1) e o purGatório2 (G2), tenho certeza que não serei absolvido.