14.8.06

Amigos,

Como disse uma amiga, esse texto não vai ser escrito do jeito que eu queria, mas é o que eu consigo fazer.

Minha gata de seis anos, Coruja, de repente emagreceu e bebia e comia muito pouco. Com a ajuda da Heliana, liguei para o veterinário e marcamos uma visita na sexta passada.

Ao examinar a Corujinha, o veterinário disse que ela estava com infecção urinária e em seguida foi tirar sangue. Foi difícil achar a veia pois estava desidratada e quando pegava a veia o sangue não vinha por estar grosso, sem líquido. Mas coletou o sangue.

O veterinário levou o sangue para o laboratório e na sexta de noite mesmo ele me ligou para dar o resultado. Corujinha estava com PIF (peritonite infecciosa felina), uma doença sem cura nem tratamento que se passa de gato pra gato pela saliva. Segundo o veterinário, o rim da Corujinha estava parando de funcionar e os outros órgãos também parariam, ocasionando a falência múltipla dos órgãos. E além disso a Corujinha, que já estava magra, ia continuar ficando magrinha até ficar pele e osso.

Foi um susto e naquele momento todo um filminho veio à minha cabeça. Não que eu já tivesse visto aquela cena, mas por começar a imaginar o que seria da minha gata/companheira a partir daquele dia.

Não contei a ninguém. Fui dormir com aquilo na cabeça, tentando digerir um pouco dessa história toda. Existiam duas soluções para o caso da Corujinha, a primeira seria deixar ela como está e morrer sofrendo e a outra solução seria a eutanásia.

Não queria ver minha gata sofrendo na minha frente, pedir carinho com as perinhas bambas de tão fracas. Além do sofrimento dela, eu também ia sofrer muito - já estávamos sofrendo. Então decidi pela eutanásia. Alguns são contras, acham que eu deveria ficar com ela até o fim, outros acham que eu sou assassino por resolver pela eutanásia. Mas para mim foi muito claro. A eutanásia seria a melhor solução para a questão.

Eu já tinha tomado essa decisão no sábado. Tenho chorado muito desde sexta. Meus amigos estão sendo essenciais nesse momento. Cada um com seu jeito de me confortar, cada um com belas palavras e belas ações.

Marquei com o veterinário para ele vir aqui em casa hoje, segunda feira dia 14 de agosto, às 16h "aplicar" a eutanásia. Acho que isso me fez sofrer mais, por saber o dia a hora e como minha gata ia morrer. Eu pensava, que essa seria a última vez em que ela se esfregava em mim, a última fez que ela me pedia carinho e o último ronron que eu ouvia dela.

O veterinário veio aqui em casa e duas amigas, Heliana e Ju, também vieram para dar força. Foi rápido. Anestesia para ela dormir e um remédio para o coração parar de funcionar na veia. Na hora não consegui pensar em nada, não acreditei no que via era tudo um pesadelo e eu queria acordar e ver minha gata do meu lado.

Corujinha dormiu um sono profundo. Esse sono não teve dor nem sofrimento. Mas para quem fica é doído demais. Uma amiga disse que o coração fica cheio cicatrizes que às vezes dão fisgadas, e a minha cicatriz está aberta dando fisgadas contínuas.

Agora a ficha está começando a cair e eu estou percebendo a realidade da história. Não vou ver minha gata pela casa, não vou mais olhar pro chão pra não machucá-la ao mexer com a cadeira, não vou mais acordar e ver aquela bolinha de pêlos no sofá, não vou mais fazer carinho nela dormindo na cama e não vou mais fazer um bando de coisas, que me davam tanto prazer, ao lado dela.

Eu tenho a consciência que esse último ano (que se completaria no dia 2 de setembro) que a Corujinha passou comigo foi o melhor ano da vida dela. O papel que ela tinha que cumprir comigo ela cumpriu e o meu com ela eu cumpri. Dei um ano de muito amor, carinho, comida e segurança, coisa que a Corujinha nunca teve.

Coruja está, agora, no céu dos gatinhos numa nuvem branquinha me abençoando. E eu estou aqui escrevendo e chorando ao mesmo tempo, com uma dor que parece ser infinita.

Agradeço aos e-mail com palavras confortáveis e a preocupação permanente. Sem amigos, mesmo aqueles que eu nem conheço pessoalmente, eu não estaria aqui tão forte.

Lucas Landau