16.4.09

A arte de ser um bom contador de histórias

"Os leitores gostam de ler histórias", é o que prega Ricardo Noblat em seu livro “A Arte de Fazer um Jornal Diário”, da editora Contexto. Pois é esse o maior prazer de ler o livro de Noblat, conhecer as histórias de 35 anos de carreira jornalística do atual colunista do jornal O Globo. Com memória aguda, Noblat cita bons momentos de sua trajetória e ensina aos futuros jornalistas, de forma didática, a arte de fazer um jornal diário de fato.

No entanto, logo no início do livro o autor prevê um futuro infeliz ao jornal impresso. Destaca que os leitores, principalmente os jovens - os leitores do futuro - preferem a dinâmica da Internet, com fatos publicados quase instantaneamente, ao jornal impresso do dia seguinte com notícias atrasadas. Em seguida Noblat dá sugestões de como melhorar a atual situação.

O jornalista defende o jornal que se propõe a informar a população e não como um negócio visando apenas os fins lucrativos. Defende também o faro jornalístico, a apuração das notícias, distinguir o que é ou não notícia e conta, usando experiências próprias, casos de uma redação.
O livro apresenta um excelente manual para produzir um bom texto jornalístico. Cita autores como Gabriel García Márquez, Vinícius de Moraes e Graciliano Ramos. Seus principais ensinamentos são de como fazer um texto conciso, cortar palavras, não usar chavões, ser direto e claro. Um prato cheio para os calouros.

Por outro lado, o autor trata a reforma do Correio Braziliense como um fato exemplar e transforma esse fato em um capítulo inteiro. Fatos não tão interessantes são apresentados pelo jornalista que estava no jornal na época da reforma. Há também as opiniões de Noblat que se tornam fatos. Quando se acredita em um fato não quer dizer que esse fato realmente aconteceu, são opiniões pessoais e devem ser tratadas como tal.

O ex-diretor de redação do Correio Braziliense questiona o lead (ou lide), o primeiro parágrafo de toda matéria que responde as seis perguntas básicas: quem, onde, como, o que, por que e quando. O autor informa que o lead morreu, apesar das redações ainda o usarem em seus jornais. Afirma que toda e qualquer matéria deve começar com uma frase que cative o leitor, não necessariamente com todas as informações contidas no lead. Se o leitor se sentir seduzido pelo início do texto ele irá com certeza até o final.

Noblat dá dicas que podem parecer um tanto óbvias, como, por exemplo, usar a criatividade e ser objetivo. Por mais que pareça óbvio é necessário que se firme certos ensinamentos. E o jornalista faz questão de repetir seguidas vezes no livro suas dicas mais valiosas.

Em todo momento de sua obra, Ricardo Noblat esbanja exibicionismo. Cita que tudo que fez, produziu, planejou ou propôs teve efeito positivo e foi um sucesso. Realmente, Noblat é um dos mais importantes jornalistas da atualidade, mas não há necessidade de expor sua vaidade a todo o momento. Com certeza terão jovens universitários encantados com o autor ao terminarem o livro. E é essa a intenção.

Resta ao bom estudante, ficar atento ao texto, à personalidade do autor. Não se deixar levar pela carreira de sucesso do jornalista e aprender a questionar certos fatos, que é, na base, uma das tarefas que o livro ensina. Afinal, por que Noblat pediu demissão da redação do Correio Braziliense após tantos sucessos no jornal? Sem pretensão de qualquer acusação, há de se ter mais uma boa história atrás disso, mas esta, é lógico, não está descrita no livro.

Em “A Arte de Fazer um Jornal Diário”, Ricardo Noblat confirma que é um dos jornalistas mais importantes do Brasil, não só pela experiência de sua carreia, mas por contar muito bem suas histórias (pessoais e suas reportagens). Contudo, o leitor deve saber separar os pontos positivos e negativos da obra. A conclusão é que o livro é leitura obrigatória a todo estudante de jornalismo. Pois Noblat aposta nos jornalistas do futuro para salvar as redações do passado.


*(essa resenha foi um trabalho proposto pelo professor de jornalismo)