22.4.05




Uma noite inesquecível

Cora Rónai

"Rebimbocas da parafuseta à parte, o Vivo Open Air continua sendo, para mim, um dos eventos mais gostosos da cidade. Sei que é quase blasfêmia dizer isso perto de cinéfilos radicais, mas adoro cinema ao ar livre. Gosto da interação da tela com o céu, com as estrelas e com o que se vislumbra da paisagem; acho que estar ao mesmo tempo a céu aberto e assistindo a um filme é uma alegria dupla, uma espécie de bilhete premiado, ainda que sujeito a chuvas e trovoadas.

Em noites de sorte grande, pode-se até brincar com um ou outro gatinho sobrevivente da matança promovida pelo Jockey Club; mas não, hoje não quero falar de tragédias quadrúpedes. Prefiro me dedicar ao lado leve e bom da vida, porque se a gente não fizer isso de vez em quando, morre de tristeza e desalento.

É claro que alguns filmes funcionam melhor do que outros ao ar livre. "Cabra cega", por exemplo, independentemente de chegar ou não ao fim, deve render muito mais num cinema fechado, onde a platéia pode, em tese, ser parte imaginária do apartamento, contribuindo para a sensação de claustrofobia que é parte tão fundamental da história.

Da mesma forma, a menos que seja exibido numa praia, vai ser difícil ver "Adrenalina pura" (Riding Giants) em circunstâncias mais apropriadas. Imaginem o melhor de todos os filmes de surfe, com as melhores tomadas de ondas de todos os tempos; e agora imaginem tudo isso ao ar livre! Espichada numa das espreguiçadeiras abaixo da tela imensa, eu tinha a nítida sensação de que ia tomar um caixote a qualquer momento. "