Asne é autora do sucesso “O Livreiro de Cabul”. Nasceu em Oslo, em 1970. Atua como correspondente de guerra desde 1994, cobriu alguns confrontos importantes, o que lhe rendeu prêmios, como por exemplo, o Grande Prêmio Norueguês de Jornalismo, em 2003. Cobriu também a invasão do Afeganistão e a Guerra do Iraque em 2003, de onde saiu “101 dias em Bagdá”.
O livro leva o leitor para uma vida sob a iminência de ataques - primeiro do governo ditatorial iraquiano, depois dos bombardeios norte-americanos. A autora esteve em Bagdá entre os meses de janeiro e abril de 2003, antes e depois do conflito na ditadura de Saddam Hussein. Antes, a população evitou entrevistas com medo da repressão do governo. Depois, com os bombardeios, veio o medo.
Asne não se aprofunda nos temas políticos em sua obra, os depoimentos do livro demonstram o choque do conflito no dia-a-dia dos iraquianos, a discussão política ela deixa para os jornais, o livro é apenas uma crônica de sua experiência. Experiência essa que teve importante influência de três personagens: Aliya, a intérprete e amiga; Zahra, uma mulher que teve três filhos; Uday al-Tay, um ineficiente homem que era responsável por jornalistas internacionais. Esses personagens e outros tantos que Asne encontrou contaram histórias que nunca foram divulgadas a qualquer outro repórter.
É interessante analisar um desses personagens. Aliya foi selecionada pelo governo de Hussein para acompanhar a jornalista em Bagdá (poucos dias antes da invasão americana). Asne sempre questionava o comportamento de Aliya perante as instruções determinadas pelo antigo regime, porém a compreendeu após saber da forma como eram penalizados os que desobedeciam às ordens de Saddam.
No entanto, Aliya, como todos os outros iraquianos, havia sofrido uma lavagem cerebral feita pelo governo, que fazia com que eles não conseguissem analisar o certo e o errado. O resultado dessa lavagem foi a educação que a população teve de não questionar nada e quando - raramente - questionava, sabia que não era permitido falar.
Asne descreve com precisão e habilidade de romancista os cenários e situações que viveu. Como, por exemplo, a sua chegada em Bagdá. Ela escreve da seguinte forma: “A primeira coisa que vi foi a luz. Penetrou-me pelas pálpebras, abriu caminho pelo sono com carícias e deslizou até o sonho. Não era como a luz da manhã que eu costumava ver, não era branca e fresca, mas sim dourada. Com os olhos entreabertos em frente a uma janela com grandes cortinas de tule, entrevejo as poltronas estampadas, uma mesa bamba, um espelho e um armário. Há um esboço mal pintado na parede de um bazar no qual sombras de mulheres com grandes xales pretos deslizam pelas ruelas lúgubres. Estou em Bagdá!”.
Silêncio, medo, pânico, apreensão foram sentimentos vivenciados diversas vezes pela autora. Destruição foi o cenário mais comum. A falta de serviços essenciais como, por exemplo, água, alimento, energia elétrica e comunicação foram obstáculos ultrapassados por Asne. A jornalista teve também que se proteger dos bombardeios americanos que descreve no livro. Criou habilidades próprias para apurar e obter informações para seus registros jornalísticos e suas matérias.
Com dedicação e determinação de correspondente internacional, driblou a segurança de Saddam Hussein para conseguir desempenhar seu trabalho. E o leitor tem a sorte de conhecer essa história por completo no conforto de sua casa, apenas instigando-se com as aventuras de Asne Seierstad e seus inesquecíveis dias em Bagdá.
(resenha para a aula de Introdução ao Jornalismo)